segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A vergonha que ninguém quer ver!

E mais...

É engraçado que hoje coloquei no Facebook um artigo partilhado, publicado pelo Expresso, sobre a vergonha nacional dos recibos Verdes. Tive muito poucas reacções.

Se eu falasse do tempo, da série de TV, do resultado do Benfica, provavelmente a reacção seria muito maior. Eu não percebo! As pessoas não sabem, ou não querem saber? Sinceramente… qual é o nosso problema (dos portugueses) que preferimos viver com a cabeça enfiada na areia do que enfrentar as coisas como elas são?

Esta história dos recibos verdes é muito engraçada. Há ou houve uma ideia generalizada que a maioria dos trabalhadores de RV’s seriam médicos e advogados e que, como tal, só tinham que pagar impostos bem altos porque ganhavam bem e podiam fazê-lo. Mas a realidade é completamente diferente… Hoje a grande fatia dos trabalhadores a RV’s estão em situação completamente precária e sem direito a praticamente nada.

Eu trabalho há 14 anos, e salvo raríssimos períodos, tenho tido sempre actividade aberta. Infelizmente. Não gosto, não queria e não foi por opção minha. Posso garantir que sempre que estive a trabalhar por conta de outrem tive ordenados e condições muito superiores às que tenho quando estou a RV’s. Mas a história da minha vida tem sido essa. Sempre no sítio errado, na hora errada.

Mas vejamos. Com a entrada em vigor das novas taxas de descontos para os trabalhadores independentes, um trabalhador que tire 12 mil euros anuais, uma média de 1000 euros mensais, desconta 44,1% de impostos a favor do estado.

Ou seja, e usando números redondos, um trabalhador que tenha um ordenado base de 1000 euros brutos, no final do mês fica com 599 euros para sobreviver.

Eu explico:

23% de IVA. Cobra, mas tem que devolver ao estado.
21,5% de IRS – 215 € de retenção na fonte
186 € de prestação mensal obrigatória à Segurança Social

Lindo, não é? Isto claro, para não falar do “simples” facto que pode ser “despedido” no próprio dia, sem aviso prévio e vai para casa com uma mão à frente e outra atrás, sem direito a subsídio de desemprego. Mais. Subsídio de férias, Natal, alimentação é pura utopia. Não existem.

E não vale a pena atirar areia para os olhos. A grande maioria dos RV’s trabalha 12 meses por ano no mesmo sítio, sujeito a chefia, horário de trabalho e posto de trabalho fixo. Não acumula vencimentos, nem regalias, muito menos subsídios.

Qualquer dia ponho a casa à venda, fico sem bens em meu nome, divorcio-me do meu marido (só no papel, claro!) e candidato-me ao Rendimento de Inserção Social. Sempre fico em casa, não contribuo para o crescimento do país, é certo, mas recebo certinho direitinho no fim do mês!

É a vergonha que temos…

6 comentários:

  1. Bem nem acredito...este blog está a dar voz aos meus pensamentos!!!! A sério...há uns anos atrás decidi ser formadora..porque tenho 2 filhos e quando trabalhava em empresas saía tão tarde que não era compativel com aquilo que é mais importante para mim (eles os 2). Não estou arrependida pois estou a adorar ser formadora (apesar de haver dias melhores e outros piores o público alvo não ser nada facil mas.... no final alguns formandos compensam o nosso esforço) só que...a recibos verdes e já vão 5 anos (e claro trabalho das 9 às 17, mais o trabalho efectuado em casa que não é pouco...ainda este domingo estive das 14h às 21h). O pior é em Agosto que não recebo salário, nem pensar em subsídio de férias (se não tivesse marido não comiamos nesse mês...)...os impostos que pagamos é um absurdo e no próximo ano a segurança social continua a aumentar...é impossivel estar doente ou os nossos familiares (recebemos à hora por isso se faltarmos não recebemos)e tb é impensável chegar 7 minutos atrasada..não recebemos!!! Enfim o estado não vê estes casos porque não quer...vários anos no mesmo sítio a recibos verdes será possivel??? Todos os anos somos despedidos em Agosto e readmitidos em setembro...óptimo para eles péssimo para nós! Tenho pensado muito nisto...o que fazer??? Tenho vários receios de estar doente, de familiares precisarem de mim e de amanhã me dizerem "obg já não necessitamos de si...." por isso trabalho em 2 sitios diferentes (faço bolos ao fim de semana) mas o medo está sempre presente...obg por podermos desabafar aqui! Afinal só notícias como a morte do Carlos Castro é que interessam ao nosso país....bjs

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  2. Estou contigo amiga. Realmente quando me queixo do meu trabalho, o que é muito frequente, tenho que lhe dar o devido valor.
    Se quiseres ir para a luta eu vou contigo. :)

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  3. Parabéns pelo blog!

    hoje, no local onde trabalho falou-se dessa questão...agora ao ler o seu artigo... surgiu-me uma opinião: porque não lançar uma petição para reverem esta situação?
    Muitas vozes ...fazem barulho, sabia?

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  4. É realmente uma vergonha a precariedade em que vivem muitos trabalhadores. Usa-se e abusa-se dos contratos a recibos verdes e, pior ainda, dos trabalhadores nessas condições.
    **

    Maria Oliveira

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  5. Percebo perfeitamente. Trabalhei a recibos verdes há alguns anos atrás, foi a pior época finaceira da minha vida.

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